Para que serve uma análise?

(e por que atravessar Freud e Lacan ainda importa)

12/10/20253 min read

“Para que serve uma análise?”
Essa pergunta aparece com frequência — às vezes vinda de quem sofre, às vezes de quem desconfia, outras vezes de quem espera da psicanálise uma resposta prática, rápida, quase utilitária.

Se a resposta for direta, ela soa provocadora: a análise não serve para nada.
Pelo menos, não serve para aquilo que normalmente se espera que ela sirva.

A análise não é um instrumento de correção, não é um manual de ajustes do eu, nem uma técnica destinada a eliminar sintomas como quem conserta uma peça defeituosa. O que está em jogo na experiência analítica é outra coisa: a forma como o sujeito se relaciona com o que falta, com o que não se resolve, com o que insiste.

É verdade: sintomas podem diminuir, se transformar, até desaparecer. Mas isso não é o essencial. O ponto decisivo é que, ao longo de uma análise, algo se desloca na posição do sujeito diante da própria vida. Não se trata de “ser melhor”, mas de não ser o mesmo.

A ilusão de “ser assim mesmo”

Vivemos sustentados por uma crença forte no eu: a ideia de que somos sempre os mesmos, de que existe um núcleo fixo que nos define. “Eu sou assim”, “sempre fui assim”, “não tem jeito”. Esse discurso aparece como defesa — e como prisão.

Na clínica, escuta-se frequentemente essa fixação: a recusa da possibilidade de ser outro. A psicanálise, porém, não trabalha para reforçar identidades, mas para fazer vacilar certezas. Ela introduz uma pergunta onde antes havia uma afirmação rígida.

Por isso, a análise é um trabalho. Um trabalho de linguagem, de escuta, de atravessamento de lugares subjetivos já conhecidos — e muitas vezes sofridos. O efeito não é a construção de um eu mais forte, mas a abertura para novas posições frente ao desejo, ao gozo, ao laço com os outros.

Freud, Lacan e a aposta na palavra

Desde Freud, a psicanálise se organiza a partir de uma aposta radical: a de que há algo que fala no sujeito para além de sua vontade consciente. O inconsciente não é um depósito de conteúdos ocultos, mas um modo de funcionamento que se manifesta em sintomas, esquecimentos, atos falhos, sonhos.

Lacan retoma essa descoberta e a leva às últimas consequências, recolocando a linguagem no centro da experiência analítica. O sujeito não é senhor do que diz — é falado pela estrutura da linguagem que o constitui.

Atravessar Freud e Lacan, portanto, não é apenas estudar conceitos. É aceitar o desconforto das perguntas que não se fecham, das respostas que não se estabilizam, do saber que nunca se completa. É justamente aí que algo do sujeito pode se deslocar.

Um convite à travessia: curso Freud e Lacan

É a partir desse espírito que se organiza o curso Freud e Lacan: introdução à psicanálise. Ao longo de seis encontros, o curso propõe um percurso por textos fundamentais que interrogam o saber, o inconsciente, o significante, a psicose e os discursos.

Mais do que transmitir conteúdos, a proposta é oferecer um espaço de leitura, escuta e elaboração, onde o pensamento não se fecha em fórmulas prontas.

Palestrantes
Aline Dainez — Psicanalista e pesquisadora. Graduada e Mestra em Filosofia pela USP.
Beethoven Hortencio — Psicólogo, psicanalista, pesquisador e professor. Mestre em Psicologia pela UFRN e Doutor em Ciências pela USP.

Informações gerais
• Duração: 6 encontros
• Frequência: 1x por semana
• Carga horária: 1h30 por encontro

Turmas
Sábados, das 9h às 10h30
📅 10/01, 17/01, 24/01, 31/01, 07/02 e 14/02

Quintas-feiras, das 13h30 às 15h
📅 15/01, 22/01, 29/01, 05/02, 12/02 e 19/02

Se a pergunta “para que serve uma análise?” não te parece simples — se ela te inquieta, retorna ou não se deixa calar — talvez esse curso seja um bom ponto de partida. Ou de recomeço.

Inscrições abertas.