O que são as pulsões em Freud e Lacan?

O que são pulsões para Freud e Lacan? Entenda como a psicanálise articula o corpo, o desejo, o sintoma e o gozo a partir da teoria pulsional.

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Bruno Moraes

6/4/20252 min read

🎯 Tema pedido por: @periodistaandressaescreve

Freud apresenta seu trabalho sobre as pulsões na obra "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" (1905). Para ele, a sexualidade humana não pode ser reduzida a um instinto natural — como nos animais —, mas deve ser pensada como uma pulsão (Trieb), ou seja, uma força que nasce no corpo, mas que não tem um objeto fixo ou uma satisfação garantida.

A pulsão freudiana tem quatro momentos estruturais:

  1. Fonte: localizada nas zonas erógenas (boca, ânus, olhar, ouvidos etc.), onde há um excesso de excitação;

  2. Meta: é sempre a satisfação, mas não necessariamente a resolução do desejo;

  3. Objeto: é contingente, qualquer coisa pode servir como objeto da pulsão;

  4. Impulso: a força da exigência que insiste em buscar satisfação.

⚠️ O objeto da pulsão é sempre um objeto perdido — ele não existe de antemão. A pulsão contorna esse vazio, inventa seus próprios objetos e retorna ao corpo, obtendo satisfação de forma autoerótica (ativa ou passiva). É nessa dinâmica que surge o sintoma: uma formação de compromisso entre o desejo inconsciente e a defesa, uma forma de gozo.

🔄 E Lacan?

Lacan reformula a teoria das pulsões, dando centralidade à pulsão de morte como única pulsão verdadeira, já que ela expressa a insistência do gozo na repetição — uma repetição sem finalidade, uma satisfação paradoxal.

👉 Para Lacan, o gozo (jouissance) é uma satisfação inconsciente, que pode ser vivida conscientemente como sofrimento ou desprazer. É uma satisfação que fere, que transborda os limites do prazer regulado pelo princípio do prazer.

Essa lógica aparece, por exemplo, no chiste, na repetição sintomática, ou até em comportamentos autossabotadores. O sujeito não repete para alcançar prazer, mas para reencontrar algo do gozo perdido — uma experiência que marca sua subjetividade, mesmo que dolorosa.

📉 Gozo e o impossível

Lacan afirma que o gozo é impossível: não se pode gozar totalmente do Outro. O gozo escapa à lei simbólica e aparece como excesso, como quebra da unidade do sujeito. Daí sua ligação com a fragmentação, a falha, o sem-sentido.

💡 É nesse ponto que Lacan nos leva a inverter a lógica do desejo: enquanto o desejo busca o Outro, o gozo se descola da alteridade, toca o real. Ele não se articula como falta, mas como presença de um excesso que o simbólico não dá conta.

🧵 Conclusão (nos comentários)

A pulsão, em Lacan, não visa um objeto externo. Ela gira em torno de um vazio, cria seus circuitos, repete o mesmo trajeto — e nisso, produz o sujeito do inconsciente. É essa repetição que dá forma ao gozo, e ao mesmo tempo, é isso que o torna impossível de ser plenamente simbolizado.

Nos comentários, continuo com exemplos clínicos e indicações de leitura.
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📚 Referências

  • Freud, S. (1905). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade

  • Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer

  • Lacan, J. (1964). O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise

  • Lacan, J. (1960-61). O seminário, livro 9: A identificação

  • Miller, J.-A. (1998). Os paradigmas do gozo

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