O autismo para a psicanálise
O autismo para a psicanálise: seria uma quarta estrutura? Veja o que diz Lacan sobre essa hipótese clínica e seus efeitos no diagnóstico e tratamento. aproveite para se inscrever.
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Bruno Moraes
6/4/20253 min read


O autismo é uma quarta estrutura?
🎯 Tema pedido por @carolina_cvlh
Atualmente, muitos modelos pedagógicos e clínicos promovem o diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) a partir de critérios comportamentais, o que, por vezes, reduz o sujeito a uma classificação rígida e excludente. Essa prática desconsidera as singularidades psíquicas e os modos próprios de relação que o sujeito autista estabelece com o mundo e com o outro.
🧠 Na psicanálise, há um debate importante: o autismo é uma estrutura clínica? Ou se trata de uma posição subjetiva dentro das estruturas já conhecidas — neurose, psicose e perversão?
🔹Três principais posições teóricas:
Autismo como uma psicose precoce:
Esta foi uma das primeiras leituras feitas, especialmente por alguns pós-freudianos. O autismo seria uma forma de psicose, marcada por uma rejeição radical do Outro e pela ausência da simbolização do falo como significante regulador da falta.Autismo como uma posição subjetiva dentro das estruturas existentes:
Alguns analistas lacanianos (como Éric Laurent e Jean-Claude Maleval) afirmam que o autismo não é uma estrutura em si, mas um modo de gozo e defesa radical frente à invasão do Outro — podendo aparecer tanto em neuroses quanto em psicoses.Autismo como quarta estrutura clínica (hipótese recente):
Essa é uma proposta mais recente no campo lacaniano, especialmente discutida por Rosine e Robert Lefort, Jean-Claude Maleval e Éric Laurent. Eles sugerem que o autismo tem uma lógica estrutural própria, diferente das outras três. Ou seja: nem neurose, nem psicose, nem perversão.
🧩 Particularidades do sujeito autista (do ponto de vista estrutural)
O sujeito autista não aliena seu corpo ao Outro, evitando o laço imaginário típico do estádio do espelho.
Há uma recusa da linguagem como imposição externa, mas também uma criação de sistemas próprios de significação (como a ecolalia, escrita, desenhos ou música).
O uso da linguagem tende a ser não endereçado ao Outro, mas voltado ao próprio sujeito — um uso auto-referencial e protetivo.
Essa posição psíquica pode ser entendida como um modo de defesa frente à intrusão do Outro, algo que Lacan nomeia como invasão do gozo. Em vez de uma identificação com o falo (como na neurose), ou de ser o falo (como na psicose), o sujeito autista tende a rejeitar o circuito significante fálico, preferindo formas autogeridas de estabilização.
🔍 A contribuição de Kanner (1943)
Kanner, ao observar os primeiros casos clínicos, destacou três características centrais:
Isolamento autístico: uma dificuldade precoce de constituir o “eu” em relação ao outro;
Alterações na linguagem e na comunicação: uso literal, ecolálico ou até ausência de fala;
Necessidade de invariância: uma forma de controle do ambiente para evitar a intrusão do novo, ou seja, do desejo do Outro.
Esses três pontos são frequentemente relidos por psicanalistas como marcas de uma posição subjetiva singular, e não como meras deficiências ou déficits, como tende a afirmar o discurso biomédico.
🧵 Conclusão (para os comentários)
Pensar o autismo como estrutura própria amplia nossa escuta clínica e evita que o sujeito seja reduzido a protocolos. Isso exige um diagnóstico diferencial que vá além do DSM ou das escalas padronizadas — e que inclua a forma singular de laço que o sujeito estabelece com o Outro, com o corpo e com o gozo.
Nos comentários, continuo com indicações clínicas e bibliográficas sobre o tema.
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📚 Referências
Kanner, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact.
Lacan, J. (1955-56). O seminário, livro 3: As psicoses.
Maleval, J.-C. (2009). O autista e sua voz.
Laurent, É. (2011). A ordem simbólica no século XXI.
Lefort, R. & R. (1990). A diferença autista.
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